Star Wars: Visions – 1ª Temporada (2021)

Há muito tempo, em um país muito, muito distante, um diretor chamado Akira Kurosawa lançou um filme chamado “A Fortaleza Escondida” (1958). Quase vinte anos depois, ainda influenciado por essa obra japonesa, George Lucas criaria um longa-metragem de enorme impacto na indústria cinematográfica. Os anos passaram, a inspiração foi incorporada e Star Wars cresceu. Somente no cinema, a franquia já lançou mais de dez filmes, além de séries animadas e em live-action.

Agora, chegou a vez de Star Wars reverenciar a cultura do país que lhe inspirou. Para isso, sete estúdios de animes foram convidados para criar pequenas histórias nas quais apresentam suas visões desse universo. A seguir, uma breve análise sem spoilers de cada um dos nove curtas animados:

 

“O Duelo”

Em uma pequena aldeia, stormtroopers remanescentes do Império Galáctico tentam controlar o local, no intuito de tirar dinheiro da população. Um pouco afastado, o recém-chegado Mestre Ronin vê o que acontece e decide intervir. Porém, por lá também há uma Sith pronta para lutar. Ao ver o Jedi se aproximar, ela decide enfrentá-lo.

Animada pelo estúdio Kamikaze Douga, a narrativa simples faz um lugar pacato vivenciar um conflito grandioso, onde o bem é representado por um protagonista misterioso e um povo humilde, agora diante de invasores implacáveis. Em meio as belas cenas em preto e branco, o vermelho se destaca ao surgir dos sabres de luz. Apresentando um visual que lembra “Yojimbo” (1961), a nova série começa bem ao referenciar Kurosawa.

 

“Balada de Tatooine”

Enquanto uma banda de rock toca para seu pequeno público, Boba Fett e sua equipe invadem o show. O objetivo é capturar o Gee, um guitarrista da mesma espécie do Jabba the Hutt. Os músicos reagem e conseguem escapar, mas o caçador de recompensas não desiste deles facilmente.

Esse episódio vir logo após de “O Duelo” mostra como se prezou pela diversidade nesse projeto. A obra do Studio Colorido honra o nome da companhia, pois há muita cor e vivacidade até mesmo em um momento difícil e de chuva forte. A história é prazerosa e nostálgica, apresenta uma variedade de espécies, resgata personagens clássicos e um memorável cenário de “Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma” (1999). Além disso, o som apresentado pela banda é muito bom.

 

“Os Gêmeos”

Criados pelo Império para trazer ordem à galáxia, dois irmãos se contrapõem devido a uma grande arma capaz de destruir planetas inteiros. Para desgosto da Mestra Am, o Mestre Karre decide escapar com o núcleo que dá energia aos disparos. Interceptado, ele não se rende, o que gera um grande duelo.

Nesse primeiro dos dois curtas apresentados pelo Studio Trigger, a história se ambienta em um Star Destroyer do Império, onde os mestres gêmeos são os comandantes. Essa obra destaca-se principalmente no aspecto visual, ao produzir belas imagens na batalha e uma última cena que aquece o coração dos fãs da franquia. O único pecado do episódio é tornar certos instantes da luta muito exagerados.

 

“A Noiva Aldeã”

Um jovem sobe pelo morro carregando uma cadeira com sua noiva nas costas. O motivo para essa gentileza é que ela não pode colocar os pés no chão, pois logo pisará em solo considerado sagrado. Lá, eles se conectam com a natureza pela última vez antes de serem separados. No dia seguinte, ela deve se render a invasores para garantir a paz na aldeia. Enquanto isso, uma misteriosa visitante observa tudo.

Dentre os primeiros episódios, este sem dúvidas é o que mais conecta Star Wars à cultura japonesa. Na produção do estúdio Kinema Citrus, a valorização da harmonia com a natureza lembra muito os valores do xintoísmo, uma religião muito popular por lá. Outro aspecto cultural presente é o reconhecimento do valor da paz, mesmo que isso custe um sacrifício pessoal. Além disso, a boa história consegue desenvolver rapidamente uma afeição do espectador pelos personagens.

 

“O Nono Jedi”

Há gerações, os Jedi já não estão reunidos, mas o lado sombrio segue vivo e pretende subjugar a galáxia. O misterioso Marquês Juro, líder de um planeta da Orla Exterior, não pretende deixar isso acontecer e convocou um grupo de Jedi sem mestres. Ao reuni-los, ele pretende os presentear com sabres de luz, mas o fabricante foi atacado e agora só uma garota pode levá-los até o local.

Não faltam acertos nesse curta escrito e dirigido por Kenji Kamiyama do estúdio Production I.G., a começar pela narrativa bem desenvolvida com eventos simultâneos. A menina Kara e o Marquês Juro são personagens tão bons que deveriam ser aproveitados em produções futuras. Um conceito muito interessante envolvendo as cores dos lightsabers é apresentado. E por fim, a trilha sonora é tão boa que John Williams vai ficar orgulhoso se assistir.

 

“T0-B1”

Enquanto o Professor Mitaka se encarrega da missão de gerar vida em um planeta, seu pequeno droide possui um grande sonho: ser um Jedi. Cansado de desencorajá-lo, o homem dá ao robô a missão de encontrar o cristal kyber, necessário para que um Jedi crie seu sabre de luz. Durante essa busca, T0-B1 entra num local proibido e isso gera consequências.

Primeiro dos dois episódios apresentados pelo estúdio Science SARU, esse curta possui um tom mais infantil, especialmente por apresentar um droide que está descobrindo o mundo, além de feições que fazem os personagens transmitirem afetuosidade. Entretanto, o desenvolvimento da história não é dos melhores, inclusive porque um erro que o droide comete poderia ter sido evitado pelo professor, mas o roteiro convenientemente esquece disso para mover a narrativa.

 

“O Ancião”

Os Sith já estão extintos há muito tempo, mas a lembrança do que eles foram ainda assombra os Jedi, inclusive Tajin e seu jovem aprendiz Dan. Enquanto viajavam na velocidade da luz, o mestre sente uma perturbação na força. Ao chegarem em um planeta, eles descobrem a existência de um misterioso ancião. Sabendo que ele pode pertencer ao lado sombrio, os dois decidem encontrá-lo.

Apresentado pelo Studio Trigger, o mesmo de “Os Gêmeos”, o curta apresenta uma bela relação de mestre e padawan. Nesse sentido, uma virtude da obra é valorizar o ciclo da vida, onde vivemos épocas de aprendizado, maturidade e enfraquecimento. A trama é bem desenvolvida, não decepciona quando chega um momento de embate e deixa um bom caminho para futuras continuações.

 

“Lop & Ochō”

Em um mundo altamente urbanizado, Ochō encontra Lop, uma menina escravizada e vinda de outro planeta. Não demora para que a garota seja adotada e passe a fazer parte da família. Sete anos depois, Ochō já está crescida e agora possui uma grande desavença com o pai Yasaburo. Enquanto ele deseja proteger a região onde cresceu, sua filha quer unir-se ao Império para desenvolver a região. Agora Lop precisará ficar do lado de um deles.

Nessa obra desenvolvida pelo Geno Studio, duas características se sobressaem. A primeira é a narrativa frágil, tanto pela mudança brusca e mal explicada no comportamento de Ochō, como também pela ausência de um final corajoso. O outro ponto é a riqueza visual apresentada. Se no passado a franquia Star Wars nos apresentou grandes cidades criadas sob uma perspectiva ocidental, agora podemos ver uma bela metrópole com aspectos da cultura e arquitetura oriental.

 

“Akakiri”

Salvo pela Princesa Misa e seus amigos após ter problemas numa luta, o Jedi Tsubaki junta-se a eles para expulsar Masago do Palácio Real, após essa Sith tomar o trono. A jornada é arriscada, pois o caminho é cheio de inimigos, mas o maior perigo para eles é ter de enfrentá-la.

Enquanto o primeiro episódio apresentado pelo Science SARU possuía um tom infantil, este é bem mais tenso. Ao mesmo tempo que consegue surpreender, a narrativa não é fluida. Não fica claro o que se buscou expressar em certos instantes. Além disso, há ainda uma cena que repete a mesma situação do outro curta apresentado por esse estúdio. Deste modo, o episódio final não é tão bom quanto a série merecia que ele fosse.