Amanheceu em Zamunda. Sob o agradável som de onze músicos, o Príncipe Akeem (Eddie Murphy) é acordado em seu quarto na data em que completa 21 anos. Acompanhado por mulheres que jogam pétalas por onde ele passa, o rapaz é banhado, vestido e tem seus dentes escovados. Em uma imensa mesa de café da manhã, ele é recebido pelo Rei Jaffe Joffer (James Earl Jones) e a Rainha Aoleon (Madge Sinclair).

Caso você nunca tenha visto o filme, ao ler o parágrafo anterior possivelmente sua impressão é de que Akeen é um rapaz fútil, que despreza a vida comum e sente-se confortável com todo o mimo ao seu redor. Nos fazendo começar com um juízo de valor errado e logo nos conduzindo a perceber que estávamos enganados, o filme nos convida para de uma maneira muito divertida refletirmos sobre como uma pessoa, rica ou pobre, pode ser muito mais do que aparenta ser.

O maior incomodo de Akeem, que faz ele deixar tudo para trás e ir a Nova York, está relacionado com aquele mesmo dia de seu aniversário. Naquela noite, o jovem conheceu sua futura esposa, que foi preparada durante toda a vida para agradá-lo. Desprovida de opiniões, gostos e vontades próprias, ela o desagrada justamente por isso. Junto com seu servo Seemi (Arsenio Hall), ele vai morar no Queens na busca por sua futura rainha, tentando portar-se como um homem comum.

Dirigido por John Landis, com roteiro de David Sheffield e Barry W. Blaustein, o filme tem em Eddie Murphy sua principal figura. Ele idealizou a história (junto com o não creditado Art Buchwald), produziu o filme e além de protagonizar, interpretou alguns personagens secundários. Mais que isso: ele deu alma para a história, expressando a essência de um personagem que é ao mesmo tempo culto e imaturo em suas relações sociais.

Exceto pelos personagens da barbearia, que parecem terem sido escritos para divertir o Eddie Murphy e Arsenio Hall durantes as gravações, todos os demais contribuem para formar nossa percepção do Akeem. Ele contrasta com o pai na maneira como enxerga as mulheres, difere-se do Seemi ao ser capaz de abrir mão de luxos e chama a atenção da Lisa McDowell (Shari Headley) por expressar-se como nenhum outro funcionário. Há ainda uma comparação inevitável entre o comportamento preconceituoso de Darryl Jenks (Eriq La Salle), namorado de Lisa, para com a otimista e solidária atitude do jovem africano.

Os acertos cômicos desse filme são inúmeros. Posso falar, por exemplo, da ótima atuação do Arsenio Hall que muitas vezes te faz rir sem sequer abrir a boca. Ou do pai de Lisa, Cleo McDowell (John Amos), um personagem simples e maravilhoso: buscando casar a filha com um homem rico, ele despreza o Príncipe Akeem e nos gera uma deliciosa expectativa sobre o momento em que vier a descobrir que seu faxineiro na verdade é um abastado membro de uma realeza.

Como em toda boa comédia, “Um Príncipe em Nova York” nos ganha também nos exageros. Isso não é mostrado apenas através das atuações de Eddie Murphy e Arsenio Hall, como também através de outros aspectos visuais, relacionados a riqueza da família real: a mesa do café da manhã, a apresentação da futura esposa, as malas da viagem, as imagens do Príncipe no dinheiro local, somado ao contraste de tudo isso com a vida que ele passa a ter em Nova York.

E assim, através da soma de uma ótima premissa, personagens bem desenvolvidos, atuações divertidas, contrastes, exageros e uma camada de reflexão, “Um Príncipe em Nova York” continua sendo uma comédia memorável.