Trinta anos após partir em busca do amor verdadeiro nas ruas do Queens, Akeem (Eddie Murphy) é surpreendido com a informação de que possui um filho bastardo em Nova York. Diante da necessidade de ter um herdeiro homem para promover um casamento arranjado, o que evitaria a invasão do país pelo General Izzi (Wesley Snipes), o agora Rei Akeem procura resgatar e preparar seu descendente para tornar-se o Príncipe de Zamunda.

Ao contrário de “Um Tira da Pesada” (1984), “O Professor Aloprado” (1996) e “Dr. Dolitte” (1998), nunca enxergaram na época do lançamento de “Um Príncipe em Nova York” (1988) algum caminho que pudesse gerar uma continuação. Após assistir ao desfecho do primeiro filme, qualquer espectador presume que “todos eles viveram felizes para sempre”.

Retomar essa história após 32 anos implica necessariamente em desfazer essa conclusão. E anular um entendimento carregado pelo público há tanto tempo exigia uma boa razão. Todavia, da maneira como as coisas se apresentam em “Um Príncipe em Nova York 2”, não existe a percepção de que havia um motivo real para a narrativa ser retomada.

Claro, é muito bom reencontrar o Rei Jaffe Joffer (James Earl Jones), o Semmi (Arsenio Hall) e até mesmo os senhores da barbearia no Queens. Mas isso até um comercial de TV poderia fazer. Sustentar uma história de quase duas horas exige no mínimo um protagonista preocupado em alcançar algo. E a história escrita por Barry W. Blaustein, David Sheffield, Justin Kanew e Kenya Barris entrega um Akeem que literalmente senta em seu trono para ver o que acontece.

Sob a direção de Craig Brewer, o mesmo que dirigiu Eddie Murphy em “Meu Nome é Dolemite” (2019), o filme tenta repetir um pouco da situação anterior ao levar alguém para uma cultura totalmente diferente. Para isso, o Lavelle Junson (Jermaine Fowler) faz a rota oposta da primeira história ao sair de Nova York para Zamunda.

Isso poderia ter dado certo se não houvesse tanta artificialidade. É bem verdade que Zamunda sempre foi um grande exagero, só que era na ambientação e funcionava. Ao olhar para os personagens encontrávamos humanidade neles. Quem nunca conheceu alguém tão mulherengo quanto o Rei Jaffe Joffer? Ou uma pessoa que gosta de se aproveitar das circunstâncias como era o Semmi?

Mas agora o exagero se impregnou nos personagens. Qual a necessidade de a Imani Izzi (Vanessa Bell Calloway) ainda estar latindo três décadas depois? Por que o General Izzi tinha que parecer tão caricato? A Mary Junson (Leslie Jones), mãe do príncipe bastardo, precisava mesmo ser tão exageradamente expansiva? Evidentemente, há instantes onde esses personagens secundários são engraçados, mas no contexto da história eles não são nada críveis.

Apesar do desenvolvimento da narrativa apresentar inconsistências, principalmente na subtrama sobre uma possível invasão de Zamunda, além de algumas cenas um tanto avulsas, há um ponto do roteiro onde há bons acertos: os diálogos. Eles trazem boas risadas, mesmo quando verbalizados de uma forma exagerada. Também sabem buscar referências do primeiro filme, como ocorre em uma divertida discussão entre o Rei Akeem e a Rainha Lisa (Shari Headley).

Outro sucesso está no uso de flashbacks enquanto o Lavelle é informado sobre fatos anteriores ao seu nascimento. As cenas ajudam a conectar a nova história com sua antecessora. Também é muito bom rejuvenescimento digital das faces de Eddie Murphy e Arsenio Hall, utilizado quando somos apresentados a situação que deu origem a concepção do príncipe bastardo.

Em momentos onde o novo filme conecta-se mais ao primeiro, o Eddie Murphy transforma-se no Akeem e apresenta o melhor da sua atuação. Mas, infelizmente, na maior parte do tempo o ator parece mais visível em cena do que seu clássico personagem. Apesar disso, o Eddie segue brilhante ao interpretar o barbeiro Clarence, o cliente Saul e o cantor Randy Watson.

Quem consegue ser impecável a todo momento é o Jermaine Fowler. Chegando a tomar parte do protagonismo para si, ele sabe apresentar na medida certa o estereótipo do jovem criado no Queens. Suas reações são genuínas e engraçadas, ao mesmo tempo que seus sentimentos parecem verdadeiros, qualquer que seja o momento emocional vivenciado pelo Lavelle Junson.

Por fim, o esquecível filme serve como mais um exemplo de que resgatar histórias clássicas não garantem bons resultados por si só. O apelo à nostalgia só funciona nos poucos instantes onde há conexão emocional com a história original. Se antes tínhamos um rapaz indo ao desconhecido para buscar o amor verdadeiro, agora temos uma história onde um propósito sincero demora muito a aparecer. Apesar da narrativa melhorar na segunda metade, a artificialidade é predominante.